quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O CANTO DOS ESCRAVOS


Este apaixonante e histórico Cd não pode faltar na discoteca dos adeptos dos cultos de matriz africana, bem como dos apreciadores da riquíssima cultura afro-brasileira.
Praticamente é uma viagem musical no tempo, que nos faz imaginar como foi a vida dos escravos no período colonial. Tudo isso , interpretado pelas lindíssimas e célebres vozes de Clementina de Jesus , Tia Doca e Geraldo Filme.
A primeira edição deste disco foi em forma de vinil em 1982 , pelo selo Marcus Pereira, mas com o tempo o disco ficou esgotado nos catálogos de venda , então em agosto de 2003 , o mesmo foi digitalizado e relançado em forma de Cd pelo selo Eldorado , sendo até hoje encontrado nos sites que comercializam cds.
Este disco, constitui-se num resgate histórico, fruto de pesquisa feita pelo filólogo Aires da Mata Machado que em 1929 transcreveu em forma de partitura vários cânticos dos escravos benguelas (Jongos, Vissungos e Ladainhas), através de seus descendentes que trabalhavam no garimpo na região de São João da Chapada (MG), conforme documentol em seu livro O NEGRO E O GARIMPO EM MINAS GERAIS ( Ed. José Olimpo – 1943), conseguindo não só registrar as músicas, mas também várias palavras africanas usadas no vocabulário da região com as respectivas traduções e suas influencias e contribuições para a cultura local..
Ao se ouvir o Cd , pode-se notar a riqueza rítmica trazida pelos povos africanos , além da criativa junção nas letras de termos africanos e termos de nosso idioma.; tudo isso acompanhado por ricos arranjos de percussão.
Para quem quiser curtir este incrível disco fica aqui a minha sugestão !!!!

Axé a todos!!!

Rosana Pinheiro

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CARAMUJO AFRICANO TAMBÉM É UMA QUESTÃO DE SAÚDE EM NOSSOS TERREIROS



(Rosana Pinheiro e Carlos Augusto Pinheiro dos Santos)

Em vários cultos afro–brasileiros, sobretudo o Candomblé, o IBI (caramujo) é utilizado em oferendas, obrigações, ebós, etc.
De acordo com a dissertação de SILVA, as espécies mais usadas são chamadas de Ibi verdadeiro ou Aruá-do-Mato ( Psiloicus sp. E Megabulinus sp.), são espécies nativas do Brasil , que estão ameaçadas de extinção devido a caça e a destruição de seu ambiente.
Na falta destes, utilizava-se o Caramujo africano (Achatina Fulica), no entanto, este caramujo é um vetor de sérias doenças e mesmo assim encontramos comerciantes que por ignorância ou por inescrupulosidade os vendem em casas de artigos religiosos. Cabendo aqui o nosso alerta.
O caramujo africano (Achatina Fulica) pode transmitir uma série de doenças para o homem, sendo que as pessoas não devem manipulá-lo sem luvas, pois o simples contato pode causar o contágio.
No Candomblé, o caramujo africano é conhecido como Ibi, Cata-sol ou Boi-de-Oxalá.
Este animal pode ser encontrado em hortas, jardins, plantações e armazéns de grãos, terrenos baldios, valas,et, possuindo uma significativa resistência à seca e ao frio.
Este molusco foi introduzido no Brasil ilegalmente na década de 80 , como uma tentativa de substituir a baixo custo o escargot, mas depois descobriu-se que o sabor era horrivel e que o mesmo era vetor de doenças. Desta forma, os criadores decepcionados soltaram seus exemplares na natureza, os quais se adaptaram e se tornaram uma praga que ameaça nossa fauna e flora , além de tornar-se um problema de saúde publica.
O caramujo-africano é um molusco grande e escuro, com até 15 cm de comprimento e 200 gramas de peso. , de concha alongada e cônica marrom ou mosqueada de tons claros.com manchas claras. Ele não deve ser confundido com os moluscos brasileiros, os nativos aruás-do-mato (Megalobulimus sp) que têm importante papel ecológico, além de servirem de alimento e como matéria prima no artesanato dos índios. Eles têm a borda da abertura da concha espessa, enquanto que o caramujo-africano tem esta borda cortante.



DOENÇAS TRANSMITIDAS PELO CARAMUJO AFRICANO


A manipulação direta ou o contato com a secreção desses moluscos deixadas formado rastros por onde passam podem causar contaminação, pois dois tipos de parasitas perigosos são encontrados em sua secreção.
1- Angiostrongytus costaricensis, causador da angiostrongilíase abdominal (FORMA DE PERITONITE ), doença que pode resultar em morte por perfuração intestinal, peritonite e hemorragia abdominal. Os sintomas são dor abdominal, febre prolongada, anorexia e vômito.
2- Angiostrongylos cantonensis, causador da angiostrongilíase meningoencefálica humana (FORMA DE MENINGITE) , que tem como sintomas dor de cabeça forte e constante, rigidez na nuca e distúrbios do sistema nervoso.

Como solução, vejo somente a criação em cativeiro nos terreiros , com devida autorização do Ibama e orientação de biólogos, do Aruá do Mato ( Psiloicus sp. e Megabulinus sp)
Deve ser feita uma ampla campanha junto ao Povo de Santo, quanto aos riscos para a saúde da utilização do IBI AFRICANO (Achatina Fulica). em .seus rituais

PARA SABER MAIS SOBRE O CARAMUJO AFRICANO ENTRE EM CONTATO COM
• Disque-caramujo africano
Tel: (21) 2598-4380 ramal 124 - Instituto Oswaldo Cruz


FONTES CONSULTADAS

http://www.fazfacil.com.br/saude/caramujo.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caramujo-gigante-africano
http://www.pmf.sc.gov.br/saude/noticias/caramujo_africano.htm
http://www.lagoasanta.com.br/saude/caramujo_africano.htm
http://www.cidadesdobrasil.com.br/cgi-cn/news.cgi?cl=099105100097100101098114&arecod=19&newcod=866
http://www.rio.rj.gov.br/defesacivil/caramujo.htm
SILVA, Maria da Conceição da. CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O SABER POPULAR SOBRE OS MOLUSCOS NOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ DE
RECIFE E OLINDA, ESTADO DE PERNAMBUCO. PARAIBA. UFPB, 2006)
( http://www.biblioteca-acaoeducativa.org.br/dspace/bitstream/123456789/367/3/Maria_Conceicao_Silva.pdf )

domingo, 21 de fevereiro de 2010

EXU NA KIMBANDA




Amigos,
Achei o texto abaixo no site da FIETRECA, e considero interessantissimo para entendemos mais sobre a querida entidade chamada EXU e a realidade histórica das origens dos cultos afro-brasileiros . Abaixo a trancrição do mesmo
EXU NA KIMBANDA TRANSCRITO DE http://www.fietreca.org.br/kimbanda.htm
A Lei da Kimbanda vem dos bantos, dos povos Angola-Congo. A “misturança”, ou ainda podemos dizer “sincretismo” entre o Exu-iorubá, os Ngangas e Tatás (almas de chefes kimbandeiros das nações bantas) foi o que deixou esse ar de confusão no povo, que muitos até mesmo sendo "feitos na kimbanda", não entendem, ou o que é pior, tratam-no de diabo. Na verdade, o Exu da kimbanda não é o Exu-Iorubá (Orixá ou Imalé dessa cultura). Os Espíritos que chegam na linha da kimbanda são espíritos de Ngangas ou Tatás, aqueles que quando encarnados na terra eram sacerdotes bantos adoradores de algum Nkisi ou Npungu. No Brasil, o culto aos Npungus e Nkisis através dos seus mensageiros – os Ngangas - foi misturado na escravidão com o culto aos Encantados e aos pajés (da cultura tupi-guarani) e também com o dos Iorubás, surgindo os seguintes novos cultos, fruto da miscelânea: Makumba - que vem de "ma-kiumba" (espíritos da noite). Foi assim chamado o mais primitivo culto sincretista no sul do Brasil (e o primeiro originado no Brasil), dada sua maior preponderância banto; é dela que descendem os outros cultos afro-brasileiros com influência das nações Angola-Congo, Tupi-guarani, Nagô e a Igreja, nessa ordem.

A razão de se chamar makiumba (logo após por deturpação da palavra ficaria makumba ou macumba) foi justamente, porque é um culto que se faz na noite, onde se deveriam chamar necessariamente os espíritos da noite (almas de outros sacerdotes do culto - Eguns ou Ancestrais). No culto iorubano-nagô conhece-se e rende-se culto aos Ancestrais-Egun, porém eles são afastados dos rituais aos Orixás, tentando ter um contato com outro tipo de energia. Isto contribuiu para que os rituais onde se chamavam os eguns fossem menosprezados, tratados pejorativamente e mal interpretados.

Por outro lado, a Igreja também condenava os cultos com influência índio-banto onde se fazia beberagem e supostamente “orgias”.

Na verdade, as danças bantús eram no Brasil e ainda são na África, bastante eróticas, e também é verdade que os Guias bebem e fumam, porém é muito distante de ser uma orgia ou uma bebedeira. Depois, quando os grupos de nações começaram a procurar sua identidade, dividiram-se os principais componentes da makumba, aparecendo: Candomblé de Angola; Candomblé de Congo; Candomblé de Caboclo ou dos Encantados; Catimbó; - todos eles à procura de uma raiz cultural - e também, ao final do século XIX surgem da macumba urbana, (onde se tinha muita participação dos brancos pobres e os descendentes de escravos) a Umbanda e a Kimbanda com influências para o Espiritismo e com muito sincretismo. Na Kimbanda, permaneceu grande parte do culto aos Ngangas da nação Angola-Congo, porém misturado com o diabo (pelas influências dos mitos e tabus dos próprios integrantes - que não tinham conhecimento das origens) e também embaixo do pé do Orixá Iorubá Exu.

Na Africa em terras bantas, muito antes de chegada do branco, já existia o culto aos ancestrais (chamados depois no Brasil "guias"). Também era conhecida a palavra "mbanda" (umbanda) significando "a arte de curar" ou "o culto pelo qual o sacerdote curava", sendo que mbanda quer dizer "O Além - onde moram os espíritos". Os sacerdotes da umbanda eram conhecidos como "kimbandas" (ki-mbanda = comunicador com o Além).

Quando chegam os portugueses e têm contato com os reinos bantos, procuram comerciar com eles de um jeito pacífico. Mais tarde, o Rei do Kongo (manikongo) descendente do primeiro ancestral kongo divinizado o “Tatá Akongo” converte-se ao catolicismo, também fazem o mesmo todos os seus vassalos. Pôde-se apreciar então, que os negros bantos eram evangelizados ainda na África, por vontade própria, fazendo eles mesmos, em sua terra, sincretismos entre Santos e Nkisis.

Porém, uma parte banta não aceitou, nem adotou a evangelização, então tramaram uma revolução contra do rei do Congo para se mostrarem opostos ao homem branco e os Santos, começaram a dizer que eram do Diabo. Esses povos bantos eram os Bagandas, Balundas e Balubas.

Depois de um tempo os Bagandas em revolta conquistaram a região de Angola e logo após quase todo o reino congo (que era formado por vários reinos vassalos). Um dos reis Bagandas foi Ngola Mbandi, de onde provém o nome de Angola. Esses revolucionários estavam apoiados pelos grandes feiticeiros e guardiões das tradições bantas. Sua bandeira era formada pelas cores da tribo dominante: vermelho e preto (muito depois seriam as cores de Angola). Os Luba-Lunda, que ajudavam na guerra em contra os brancos e os reinos congos evangelizados usavam na bandeira as cores vermelha, preta e branca.

Devemos também dizer que depois de muito tempo de paz entre portugueses e congos, um dos descendentes do Rei do Congo para não perder o reino, decidiu se unir ao pensamento das outras tribos, pegando novamente seu nome africano e declarando a guerra contra os portugueses, aliando-se com o resto dos povos bantos.

Os portugueses por seu lado, levaram-se milhares de escravos bantos para o Brasil, e entre eles se encontravam partidários dos dois grupos bantos: os evangelizados e os defensores das tradições. Este último grupo, já no Brasil, continuou em estado de revolta, contrário a tudo que vinha do branco, e também em parte "inimigo" dos escravos feiticeiros que sincretizavam os Nkisis com os Santos.

No período da escravidão, os bantos dos dois grupos (revolucionários e evangelizados) fazem contato com os grupos tupi-guaranis, sendo que também entre os índios, havia dois grupos com afinidade aos grupos bantos: índios bruxos que não aceitavam os santos (se identificando com o diabo) e os índios evangelizados que gostavam da idéia do sincretismo dos santos. Esses grupos se uniram para fazer suas magias em separado, quer dizer, os negros bantos contrários ao branco e aos santos com os índios bruxos; e os negros bantos evangelizados com os índios evangelizados.

Daí o surgimento de duas correntes paralelas e opostas que seriam conhecidas no Brasil como Umbanda - o culto dos caboclos e pretos evangelizados; e a Kimbanda - o culto dos caboclos e pretos que não aceitaram viver em baixo do pé do Deus dos brancos, se aliando ao Diabo (inimigo do branco) e com Exu (aquele que também era olhado como um demônio).

Aliás, temos dizer que, com o passar do tempo, quando morrem os escravos dos dois grupos, estes são chamados e incorporados através de transe por seus descendentes, a princípio na Macumba e logo depois na Umbanda. Porém, os espíritos chegavam todos num mesmo terreiro sem tanta diferenciação e até confundindo os grupos. O que os descendentes de escravos menos queriam era de serem chamados de satanistas ou macumbeiros, por isso colocaram aos grupos revoltosos em baixo do pé dos grupos evangelizados e a Kimbanda ficou sendo uma sub-linha da Umbanda. Porém os próprios Espíritos se encarregaram de fazer a separação e hoje em dia podemos dizer sem dúvida que existem duas religiões paralelas e diferentes: a Umbanda - aonde chegam os Espíritos Guias dos Pretos e Caboclos evangelizados, vestidos de branco, humildes, que acreditam nos santos e os orixás, onde não se fazem sacrifícios de animais, que não fazem o mal, etc, e a Kimbanda - aonde chegam os Espíritos Guias dos Pretos e Caboclos que trabalham para bem ou mal, com sacrifícios de animais, luxo, orgulho, revolução e que não acreditam nos Santos da Igreja, defensores de tudo o que seja africanismo, e aceitam os Orixás e Nkisis.

Cabe dizer, que os seguidores dos distintos ramos da umbanda, adotam e adaptam as duas linhas (umbanda-kimbanda) segundo os preceitos e as influências majoritárias da sua Casa de Religião. Por exemplo, aqueles que fazem Umbanda Branca (sem sangue) colocam a kimbanda em baixo da mesma e continuam sem praticar sacrifícios de sangue para os Exus. Aqueles que fazem culto aos Orixás iorubás e também praticam a Umbanda, dadas às influências iorubanas, olham na Umbanda como na Kimbanda um culto aos ancestrais (ou Linha de Almas) submetidos aos Orixás, fazendo para os ancestrais rituais de sacrifícios (princípio fundamental dessa cultura).

Hoje em dia podemos dizer que a Kimbanda se libertou da Umbanda, existindo um culto separado só para Exu da Kimbanda e fora do contexto umbandista.