terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O PANO DA COSTA

O PANO DA COSTA
(Autores - Carlos Augusto Pinheiro dos Santos e Rosana Pinheiro )
Sempre que vamos visitar os terreiros de Candomblé e alguns terreiros de Umbanda que seguem uma linha mais africanizada, ficamos maravilhados com esta peça da indumentária religiosa afro-brasileira , chamada de PANO DA COSTA, que é um tecido colorido que normalmente envolve o corpo das mulheres a partir do peitoral. ,entretanto na forma denominada ALAKA , o pano da costa ganha um maior comprimento e envolve as mulheres dos ombros até aproximadamente a altura das canelas.

Em várias pinturas de Debret retratando escravos do inicio do século 19 e algumas fotos de escravos nos primeiros anos da fotografia no Brasil, vemos os mesmos usando essa peça de indumentária em suas vestes.

O termo pano-da-costa , passa a idéia de que o mesmo teve sua origem na costa africana, , de acordo com registros históricos, o mesmo vinha da costa ocidental ,assim como outros produtos que vieram para o Brasil, no entanto, todo tipo de produto que era importado da África, vulgarmente tinha acrescido ao seu nome o nome DA COSTA, por exemplo, sabão da costa , pimenta da costa, etc...

Há duas teorias em relação aos panos da costa no Brasil, a primeira diz que os primeiros panos da costa vieram para o Brasil enrolando os corpos das negras africanas trazidas para cá para serem vendidas no mercado escravo. A outra diz que as negras eram compradas praticamente nuas e que as que iriam trabalhar na casa grande como mucamas, seriam melhor vestidas , com trajes semelhantes aos usados pelos europeus para não prejudicar a imagem dos seus senhores, já as que iriam trabalhar fora da casa grande , seriam vestidas apenas com o pano da costa para cobrir seus corpos.

Mais precisamente o pano da costa constituia-se inicialmente de uma peça composta por quatro tiras de tecido colorido com 15 cm de largura produzidos artesanalmente em teares, costurados um ao outro manualmente , sendo suas cores de acordo com a cor do orixá de quem iria usá-lo , poderíamos dizer que ele tem a forma de um Xale retangular. .

Com o período da expansão árabe no território africano, o contato das populações africanas com os povos orientais que usavam tecidos enrolados em seus corpos como vestes , fez com que se formassem populaçoes africanas maometanas que sobre os rígidos padrões morais arabes, sentissem a necessidade de uma vestimenta africana semelhante para cobrir seus corpos, com isso começaram a trabalhar com peles animais , inclusive a lä , e couro, depois passaram a tecer com fibras vegetais tecidos (RAFIA ,vinda de Madagascar) e mais tarde através da colonização européia e a introduçáo da tecelagem de algodáo, passou-se a trabalhar com este material. Os tecidos africanos passaram a ser exportados para varias partes do mundo, inclusive o Brasil.

Dentre os povos africanos que mais se destacaram pela produção e uso de panos–da-costa, foram os Malés, africanos adeptos do islamismo, que também mantinham as crenças em suas divindades e escravos dessa nação habitaram em sua maioria na região Nordeste do Brasil .

Somente no século XVIII com o desenvolvimento dos primeiros teares no pais , é que passou-se a fabricar tecidos para a confecção do pano da costa no Brasil

Hoje em dia, um dos poucos terreiros que preserva a técnica e produz panos–da-costa , como era feito no século XVIII é o Ilê Axé Opô Afonjá através de sua pequena oficina mantem a tradição da fabricação artesanal em teares do pano-da –costa .

O Pano-da-Costa era chamado em Yorubá de ALAKÁ, creio que por isso chama-se também aquela vestimenta mais comprida que o abada de alaká, pela mesma fazer lembrar os panos-da-costa de maior comprimento , que encobriam quase todo o corpo da escrava.

Inicialmente o pano-da-costa foi usado como um vestuário barato para as escravas que trabalhavam fora da casa-grande , depois passou a ser um adereço do vestuário dos integrantes das irmandades negras, que surgiam para construir igrejas para os escravos rezarem e para darem funerais dignos a estes.; em ambos os caso as cores dos panos-da- costa eram escuros e pesados. Mas a grande revolução foi a incorporação deste adereço ao traje de baiana dos terreiros de candomblé, a partir daí ele ganhou vida, pois as cores do pano-da-costa passaram a ser vivas, sempre na cor do orixá principal de quem usasse , além de ser ornado com bordados, fitinhas e rendas em suas bordas, fazendo com que o traje de baiana ganhasse vida, quebrando a monotonia do branco, além de marcar a cintura da roupa, fazendo com que até hoje fiquemos maravilhados em ver uma gira tão bela em colorido, uma verdadeira aquarela da fé em nossos terreiros

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
CASA MUSEU DO OBJETO BRASILEIRO http://www.acasa.org.br/arquivo_objeto.php?reg_mv=OB-00565

TORRES, H. A.. Alguns aspectos da indumentária da crioula baiana. Cad. Pagu, Campinas, n. 23, Dec. 2004 . Available from . access on 08 Nov. 2009. doi: 10.1590/S0104-83332004000200015.

Lody, Raul Giovanni. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura et al (Cadernos de Folclore, 15), 1977. 16p., photos, glossary, bibl., wrps Paperback On a traditional Black Brazilian female costume

LODY, Raul. Dicionário de arte sacra e técnicas afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.